O BIOPOLIS/CIBIO Centro de investigação propôs-se a realizar uma reflexão propositiva sobre a arborização de ruas, avenidas, e outros espaços-canal da cidade do Porto.
Este trabalho irá desenvolver-se em três fases:
– Fase 1: Caracterização e diagnóstico da situação existente;
– Fase 2: Plano;
– Fase 3: Protótipos de intervenção – ruas, espaços e espécies.
Esta reflexão incidirá prioritariamente ao nível de tipologias de organização espacial, desenho e materiais vegetais a utilizar, tentando otimizar a relação entre o espaço público disponível e as árvores que este pode sustentar, a curto, médio e longo prazo.
No contexto português de planeamento e ordenamento do território, o espaço-canal é definido como a área ocupada por infraestruturas de desenvolvimento linear, quer sejam implementadas à superfície do terreno, no subsolo ou no espaço aéreo, podendo surgir em contexto urbano ou rural (Decreto Regulamentar n.º15/2015 e Decreto Regulamentar n.º5/2019). Contudo, os espaços-canal, ou vias, estão fortemente associadas à imagem contemporânea do que constitui uma cidade (Lynch, 2011). Estas podem ser definidas como os canais de circulação, para pessoas e bens, podendo incluir tráfego de diversas naturezas – rodoviário, ferroviário, pedonal, aquático – mas em que o movimento, de pessoas ou bens, é sempre a função predominante.
Para além da função de movimento ou circulação, as exigências dos espaços urbanos obrigam a que a maioria da malha de espaços-canal neste contexto acomode também outras funções importantes: 1) função de lugar; 2) acesso direto a edifícios e espaços públicos; 3) drenagem, iluminação e outros serviços de utilidade pública; 4) estacionamento. A provisão desta diversidade de funções vai distinguir e realçar a importância dos arruamentos urbanos, quando comparados às vias destinadas a transporte de alta velocidade e/ou a grande distância, como auto-estradas e ferrovias, que excluem ou marginalizam a presença de peões (Cowan, 2005; Department for Transport, 2007).
A rua pode ser considerada como a menor unidade do espaço urbano, com forma própria, que contribui para a morfologia de uma cidade. Ao nível do planeamento e desenho urbano, a escala da rua é aquela que mais se aproxima da escala da perceção humana – a partir de qualquer ponto de observação numa cidade, é possível estabelecer uma relação próxima com os constituintes da rua e as suas características: as faixas de circulação; o edificado e os seus pormenores construtivos; o dinamismo sazonal e a sombra de uma árvore; o padrão, a estereotomia, a cor e a textura do pavimento; a sinalética e o mobiliário urbano. Para além disso, o traçado das ruas vai influenciar a disposição dos edifícios, dos quarteirões, dos espaços abertos e de outros espaços públicos, assim como a relação destes elementos entre si e com e as pessoas que usufruem do espaço urbano (Lamas, 2000).
Ao longo dos tempos, o desenho da rua e a sua importância foram sendo alterados à medida das necessidades da cidade. O aumento da população urbana, a introdução de veículos automóveis e as preocupações com o aumento dos níveis de poluição foram os elementos que mais condicionaram o pensamento da cidade. Neste sentido, a partir do século XIX foram propostas novas formas de pensar a cidade que valorizavam a presença de vegetação e de espaços verdes. Exemplos disso são os projetos urbanísticos para a cidade de Paris coordenados por Haussman, a cidade-jardim de Ebenezer Howard, os conceitos urbanísticos de Corbusier, e mais recentemente os conceitos de corredores verdes (Benevolo, 1978).